Adeus, Betinho! Oi, Betinho!
por Agostinho Guerreiro
Texto extraído do livro Mobilização: Betinho & a cidadania dos empregados de Furnas, de 1998.
Betinho morreu, mas está com a gente!
Com o sorriso e o olhar que só ele tinha.
Betinho foi muito importante para nós. Foi um dos primeiros a apoiar a criação do Idaco. Um apoio que nos estimulou durante esses anos e virou um dom preciso: uma relíquia em nossa lembrança e em nossa vida.
Betinho foi, também, desde muito antes, um amigo; companheiro de direção na difícil luta contra o regime militar, desde 1966. Nos conhecemos na Ação Popular quando Betinho foi representar o Brasil na OLAS – Organização Latino-Americana de Solidariedade, em Cuba.
Betinho foi militante permanente. Em 1969, na sua volta da OLAS, a ditadura militar estava ainda mais feroz, A Ação Popular também era outra. Betinho sofreu bastante, porém trabalhou com a gente semeando a democracia com os operários do ABC paulista. Sua hemofilia, naquele tempo de prisões e torturas lhe impunha sérios riscos de vida e, após cerva de dois anos, foi obrigado a nos deixar, partindo com Maria para os tristes anos do exílio.
Na felicidade da Anistia e da volta, acompanhamos os reencontros, a criação do Ibase, as alegrias dos vizinhos, as noitadas com Chico Mário, a dor das partidas do Henfil e do Chico, os momentos doces e amargos da vida pessoal e do país. Veio a triste descoberta da Aids… mas vieram Agrária, “Se Liga Rio”, Terra e Democracia, Movimento pela Ética na Política – que resultou no impeachment de Collor-, a fundação Abong – Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais, da qual é presidente de honra.
Na Ação pelo Emprego e Desenvolvimento, estivemos mais juntos ainda, somando o Clube de Engenharia nessa mobilização nacional. E, na Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida, desde os primeiros passos, na discussão do nome, rumos e cuidados com a campanha que marcou para sempre nosso país.
Betinho de pequenas histórias de Bocaiúva e grandes histórias de nosso Brasil. Advogado maior do povo brasileiro, revolucionário imprevisível, gênio radical da luta contra a indiferença pela miséria, crítico consequente da política de opressão dos governos e das elites sobre os pobres.
Você vai nos fazer muita falta!
Só não vai fazer mais porque o seu sorriso, o seu olhar, suas ideias, continuam com a gente.
Betinho, amigo e companheiro.
Cuide de nós!